O médico e prefeito afastado de Uruburetama, José Hilson de
Paiva, de 70 anos, se apresentou espontaneamente à Polícia na tarde desta
sexta-feira (19), por volta das 14h. Hilson prestou depoimento na Delegacia
Geral da Polícia Civil do Ceará, no centro da capital cearense.
Paiva se entregou na presença do advogado Leandro Vasques,
poucas horas depois do Poder Judiciário cearense decretar a prisão
preventiva. José Hilson é suspeito de
crimes sexuais. Há informações que ele teria vitimado, pelo menos 17 mulheres.
Os assédios eram registrados pelo próprio suspeito, sem que
as vítimas percebessem. O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) havia
requerido a prisão preventiva do médico na noite dessa quarta-feira (17). Na
manhã desta sexta-feira (19), a Justiça acolheu o pedido e acrescentou que as
autoridades apreendam objetos que possam comprovar os crimes.
Na decisão determinando a prisão preventiva há que a captura
"se faz necessária afim de preservar higidez das provas a serem produzidas
em juízo eis que da leitura das peças deprende-se que o representado venha
utilizando sua inflência para se manter impune ao longo de vários anos do que
se pode deduzir a possibilidade de ele, o representado, em liberdade embaraçar
investigação policial e instrução criminal".
Primeiras denúncias ocorreram em 1994
O Sistema Verdes Mares teve acesso a 63 vídeos feitos pelo
próprio médico. Em alguns, ele aparece com a boca nos seios das pacientes ou
tentando penetrá-las sob o pretexto de ser um procedimento médico para diminuir
inflamações.
Profissionais da Associação de Medicina Brasileira
assistiram às imagens e avaliam que há “claramente estupro das pacientes”.
As primeiras denúncias contra José Hilson ocorreram em 1994,
mas o caso foi arquivado. As mulheres afirmaram que não denunciaram por medo ou
porque dependiam do prefeito para manter emprego ou ter acesso a serviços
públicos.
Em 2018, quatro mulheres voltaram a denunciar Hilson Paiva
por abuso durante atendimento ginecológico. O juiz arquivou o caso, e as
mulheres foram obrigadas a pedir desculpas ao então prefeito para evitar serem
processadas por calúnia e difamação. Apenas uma delas se recusou e manteve a
denúncia.
Após repercussão do caso em matéria veiculada pelo
Fantástico no último domingo (14), José Hilson foi afastado da prefeitura de Uruburetama,
expulso do partido PCdoB, ao qual era afiliado, e impedido de exercer a
medicina por seis meses em decisão do Conselho Regional de Medicina do Estado
do Ceará (Cremec).
Polícia ouve mais vítimas
Pelo menos duas vítimas já foram ouvidas na unidade da
Polícia Civil de Uruburetama até esta quinta-feira (18). Outras quatro mulheres
estiveram na Delegacia de Cruz, onde José Hilson trabalhou como médico da
Prefeitura entre 1992 a 2012 e manteve um consultório particular na cidade até
2018, onde também teria cometido os crimes.
O MPCE afirma ainda que já investigava o médico desde junho
deste ano, pelos mesmos vídeos obtidos pelo Sistema Verdes Mares. O órgão
responsável pela apuração é o Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc) e, até o
momento, seis vítimas e uma testemunha já foram ouvidas.
DIÁRIO DO NORDESTE