
Em março deste ano uma criança de apenas um ano e dez meses
morreu vítima de leishmaniose visceral, doença conhecida popularmente como
calazar. De acordo com a mãe do menino, senhora Jacicleide Pereira da Sousa,
moradora do Conjunto São Francisco II, em outubro do ano passado a criança
começou a apresentar febre e foi levada por diversas vezes ao posto de saúde e
ao hospital municipal João Ferreira Gomes. Apesar disso, os profissionais de
saúde não diagnosticaram a doença. Somente depois que um médico solicitou a
realização de alguns exames a criança foi transferida para o hospital Albert
Sabin, em Fortaleza, depois de constatado que ela estava com anemia severa. Em
Fortaleza os médicos diagnosticaram o menino com leishmaniose e iniciaram o
tratamento imediatamente. Logo após o diagnóstico a Secretaria Municipal de
Itapajé foi notificada do caso. Após quinze dias de internação a criança teve
alta médica e retornou a Itapajé. Mas em março deste ano o estado de saúde do
menino se agravou e ele veio a óbito no dia 13.
Em entrevista ao departamento de jornalismo da rádio Atitude
FM, a mãe do menino acusou a Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses de
Itapajé de negligência. Segundo ela, mesmo depois do diagnóstico de calazar do
filho, os agentes de endemias não recolheram os cães com suspeita de estarem
contaminados com a doença. Em resposta a diretora da Vigilância Sanitária,
médica veterinária Jaliana Holanda, informou que o órgão foi notificado do caso
de leishmaniose visceral por volta do dia 20 de novembro. A partir disso, teria
adotado o protocolo determinado pelo Ministério da Saúde para o controle e
bloqueio da doença. O primeiro passo foi realizar testes em animas suspeitos.
Amostras do material recolhido de seis cães foram enviadas ao Laboratório Central
de Saúde Pública do Ceará – Lacen. O resultado saiu em dezembro e de todas as
amostras, três deram positivos para a doença. O passo seguinte foi solicitar à
Vigilância Sanitária do Estado, ainda em dezembro, o envio de uma carrocinha
para recolher os cachorros contaminados. A resposta do órgão estadual, segundo
Jaliana, foi negativa. O veículo estaria quebrado. Outras duas solicitações
foram enviadas em janeiro e fevereiro, mas somente no dia 15 de março, um dia
após o sepultamento da criança, a carrocinha foi enviada para recolher os
animais.
Jaliana Holanda disse que o município não possui carrocinha
nem tampouco um espaço adequado para confinar animais doentes. Afirmou ainda
que é necessário seguir um protocolo para realizar a eutanásia de animais doentes.
Caso essas regras não sejam cumpridas os funcionários do setor de zoonoses
podem responder criminalmente por maus tratos contra os animais.
Apesar da demora no recolhimento dos cachorros, Jaliana
descartou uma relação direta da morte da criança com o não recolhimento dos
animais logo após a confirmação do diagnóstico. Segundo ela, um paralelo só
poderia ser traçado em se tratando de novos casos de contaminação humana
confirmados depois da notificação feita pelo Lacen. Ainda de acordo com ela, para
que uma pessoa seja diagnosticada pela segunda vez com leishmaniose visceral, é
necessário pelo menos um período de tempo de doze meses entre um diagnóstico e
outro. Ou seja, segundo explicou, não seria possível que a criança tivesse sido
contaminada pela segunda vez em um intervalo de algumas semanas. Ela afirmou
ainda que o município de Itapajé é uma área endêmica para casos da doença. Por Mardem Lopes