Itapajé, historicamente é
a segunda cidade do Ceará a abolir legitimamente a prática da escravatura em um
episódio ocorrido no dia 02 de fevereiro de 1883.
O evento oficial aconteceu
na Igreja Matriz de São Francisco de Assis e contou com as presenças de abolicionistas
ilustres, como Felipe Sampaio, José do Patrocínio, José do Amaral, Antônio
Martins, Bezerra de Menezes e José Marrocos, onde durante a solenidade foram
alforriados 111 escravos gratuitamente.
O episódio da Abolição dos
escravos em São Francisco foi assim narrado por Raimundo Girão, no livro: A
ABOLIÇÃO NO CEARÁ, Editora A. BATISTA
Fontenele, EDIÇÃO DE 1956, Páginas 162 e seguintes:
“Em São Francisco não foi
menor o arrebatamento: a comitiva da “Libertadora”, que aguardava, na povoação
Arraial, (Nota: Na época, distrito de São Francisco de Uruburetama, atual
cidade de Uruburetama, pois somente em 1º de agosto de 1890 esse distrito foi
desmembrado de São Francisco), os amigos que a viriam receber, deu entrada na
Vila (de São Francisco) às sete horas da noite, - de 1 de Fevereiro de 1883 –
debaixo de flores, música e ovações febris. Ao descer de seu cavalo, falou
(José do) Patrocínio, “abrindo com a magia de sua palavra o coração do povo”,
que o saudava vibrantemente.
No dia seguinte a Câmara
Municipal muda o nome das ruas do Comércio e dos Caratiús, para “Rua 2 de
Fevereiro” e “Felipe Sampaio”, e concede a (José do) Patrocínio, título de
cidadão Sanfrancisquense”.
Aos 2 dia de fevereiro de 1883, as estrondosas
festividades, começadas ao ronco de 21 tiros pela madrugada, abafando a
vozearia da música, dos sinos e foguetes. A vilazinha, toda, em gala não cabia
em si no seu júbilo justificado, e a sua igreja como que inflava com o átrio –
(nota - Fora inaugurada havia alguns anos atrás, precisamente em 1878 ) - e as calçadas para comportar toda aquela
população que ia assistir à esperada solenidade.
O presidente da Sociedade
Libertadora de S. Francisco, Dr. Antônio Ferreira de Melo Santiago, disse dos
fins da sessão e deu a presidência a José do Amaral, que declina da honra em
favor de Felipe Sampaio. Este exige que ela fique com Patrocínio, mas “O
Tigre", explicando estar ali "quem dispunha da balança e da espada",
o magistrado Antônio Columbano de Assis Carvalho, pede-lhe que aceite a direção
dos trabalhos.
O primeiro a discursar foi
o presidente da Câmara João Januário Barreto, que declara "oficialmente
extinto no Município (de são Francisco) o elemento escravo". Outros
oradores externaram os seus sentimentos: João Oto do Amaral Henrique, Antônio
Martins, José do Patrocínio, Antônio Bezerra, José Marrocos e Raimundo Vóssio
Brígido.
Segunda vez usava da
palavra: Antônio Martins para recitar a poesia em que Rodolfo Teófilo cantava
as glórias daquela terra, agora mais feliz. A seguir Antônio Bezerra, duas
outras composições poéticas, uma de José Galeano e outra de Bernardino de
Sales; e José Marrocos para dizer que trazia as flores do coração das Cearenses
Libertadoras a fim de depô-las nas mãos das senhoras libertadoras de S .
Francisco.
Patrocínio foi obrigado a
orar diversas vezes e pôde gritar de pulmões cheios: - "Hoje cada pegada
dos legionários da Liberdade é um pedaço de território livre! Bradando o fiat do
alto das montanhas do Acarape, em baixo surgiu a vila da Redenção. Os ecos
foram ressoar na cordilheira da Uruburetama e na serra da Aratanha, e São Francisco.Nota
do autor. As efemérides ocorreram às 9 horas da manhã, em São Francisco – atual
Itapajé, conforme transcrito na Acta comemorativa.
Fonte: http://itapagece.blogspot.com.br